sexta-feira, 30 de novembro de 2018

ENTREVISTA COM O BISPO RENATO SOUZA

Renato Souza, mais conhecido no meio Cristão Inclusivo como Bispo Renato, 
de família e formação católica, é Professor efetivo da rede estadual de ensino. 
Leciona Filosofia, Sociologia e Ensino Religioso na Escola Estadual Ten. 
Coronel Cândido Mariano, sob a administração da Polícia Militar do Estado do 
Amazonas, a segunda maior escola da América Latina.

Seu lema episcopal: “Construir na Caridade”

Nosso Bispo Renato concedeu uma entrevista para o Boletim da FAE, onde 
fez um balanço dos seus 5 anos de Episcopado; comentou sobre como 
percebe a situação no Brasil em relação às igrejas inclusivas; sua expectativa
para o futuro do Evangelho Inclusivo e falou um pouco sobre si.

1) Balanço dos 5 anos de episcopado:

O ser humano nunca está 100% pronto, então, estes 5 anos foram um 
aprendizado constante. E, graças a Deus, continuo aprendendo.

Aprendi que quando se está à frente de qualquer projeto ou movimento, 
precisamos estar abertos às mudanças e não ter medo do diferente. Acho que 
é por isso que me identifico com a diversidade em todos os seus aspectos.

Como líder de uma igreja inclusiva aprendi também, da forma mais linda, que 
não se pode fazer acepção de pessoas no Cristianismo.

Enfim, foram 5 anos incríveis. Passaram pessoas que, como diz a canção, 
"espalharam cizânia onde eu semeei", mas o Espírito sempre me impulsiona e, 
como o rebanho não é meu, mas do Bom Pastor, o trabalho segue.

2) Como o senhor percebe o momento atual para 
o Evangelho Inclusivo?

É um momento nebuloso. Não temos certeza de absolutamente nada. Podemos 
apenas especular.

Mas precisamos nos prevenir e fazer todo o possível para proteger os pobres e 
os mais vulneráveis da sociedade.

É necessário que as igrejas inclusivas se revistam do dom de profecia; não 
como mera adivinhação, mas como porta-voz do Evangelho que se opõe à todas
 as formas de violência e de exclusão social e eclesiástica.

Há dois projetos vigentes no Ocidente: um que idolatra o poder e o dinheiro, 
ostenta e usa a mensagem do Evangelho pra maquiar seu discurso de ódio; 
o outro, pelo contrário, se apega à Jesus de Nazaré como um Deus Libertador 
e Inclusivo que morre e ressuscita por todos e todas.

O cristão inclusivo precisa tomar consciência disso e assumir um testemunho 
coerente com a fé que professa. É assim que procuro pastorear a Fraternidade 
Amigos do Evangelho.

3) Como um ex-frade católico se torna bispo de 
uma igreja inclusiva?

Boa pergunta! Bem, tudo é um processo! Demorei para entender o que Deus 
queria de mim, é qual era a minha verdadeira vocação. Com certeza não era 
ser padre!!!

Depois que deixei a ordem à qual pertenci (minha  saída não teve nada a ver 
com dogmas, com fé ou com a sexualidade, mas com as incorrências que 
encontrei entre meus irmãos de hábito), ainda me coloquei à disposição de 
comunidades católicas aqui em Manaus, mas nelas tive a minha primeira 
experiência de exclusão cristã.

Sim. Numa fui excluído pelo padre com o apoio do bispo, na outra, os padres 
me queriam na comunidade, mas alguns fiéis, que nasceram na igreja, mas 
nunca entenderam o que é o Evangelho, não me queriam com medo de perder 
seus cargos de liderança.

Então, percebi que o catolicismo não era mais o meu lugar. Conheci uma igreja 
inclusiva aqui em Manaus, ela já não existe mais. Nela fui sagrado bispo, mas 
também nela encontrei a exclusão.

Então, fundei a Fraternidade Amigos do Evangelho com o propósito de reescrever 
o Cristianismo e o conceito de Igreja. Alguns dos que fundaram a FAE comigo 
não entenderam isso. Quiseram manter os modelos desgastados de igreja, que 
exclui os diferentes e usa os fiéis como massa de manobra. Não é essa a minha 
vocação.

Baseado nisso, procurei pautar meu ministério e, graças a Deus, tenho encontrado 
pessoas dispostas a caminhar comigo e a construir uma igreja fiel ao projeto 
libertador de Jesus de Nazaré.

4) Uma igreja para os diferentes? Que diferentes?

A visão de inclusão cristã da FAE nunca se resumiu à diversidade sexual ou à 
população LGBT. Na FAE, quando se fala de inclusão cristã se fala também das 
minorias sociais.

Negros, mestiços, indígenas, brancos, ricos, pobres, pessoas com deficiência, 
LGBT's, ou seja, não fazer, de forma alguma, acepção de pessoas.

No que se refere à outras religiões, aos não-cristãos, a inclusão cristã nos desafia 
ao diálogo e ao respeito, lutando também pelo fim da intolerância religiosa e dos 
ataques aos espaços sagrados. Não podemos esquecer também da defesa ao 
princípio do Estado Laico, uma das características da democracia moderna.

Uma maneira de acolher aos diferentes é a horizontalidade de nossa igreja. Sempre 
estimulo o diálogo entre os amigos do Evangelho e a exposição de suas ideias e 
sugestões em um ambiente de cordialidade e aceitação. Todos são ouvidos, mas 
todos têm o dever ouvir e respeitar o irmão.

Procuro levar aos fiéis a ideia de que pensar diferente é riqueza e não ameaça, como, 
geralmente, se ensina em outros ambientes cristãos e em algumas partes da sociedade.

A Assembleia Geral dos Amigos do Evangelho deve ser a expressão máxima desse 
acolhimento ao diferente. A Assembleia é o espaço do diálogo, da partilha e do 
crescimento mútuo entre os irmãos e irmãs.

Aí os mais conservadores perguntam: "onde fica sua autoridade de pastor e líder"? 
Eu repondo: "O bispo primaz não é o dono da FAE. Cabe a ele presidir e resguardar 
a Assembleia e colocar suas deliberações em prática".

A Assembleia da FAE impede que os Amigos do Evangelho se tornem um destes 
"papados modernos" que vêm desacreditando o Cristianismo nos últimos anos no Brasil.

5) O que é a Festa da Unidade dos Amigos do 
Evangelho?

"Unidade na diversidade" é um lema recorrente quando se fala em unidade. 
Para a FAE, é extremamente importante falar em unidade.

A ideia ou o conceito de unidade da FAE brota do próprio Deus Trino, 
Unidade indivisível e Trindade onipotente, uma divindade comunitária. Os 
amigos do Evangelho, ao cultuar um Deus com essas características 
únicas na história das religiões, são chamados a dar testemunho de unidade.

Na nossa realidade local, são muito comuns os "cismas", ou seja, os rachas 
ou as dissidências mas comunidades cristãs.

Essas situações, geralmente levam à inimizades entre os irmãos. Queremos 
evitar isso. A unidade da FAE se dá ao redor do ministério do bispo. Também 
é missão do bispo, como líder e principal pastor da FAE, zelar por esta unidade.

Em um mundo tão marcado por divisões de todos os tipos, urge um testemunho 
de acolhimento, de aceitação mútua, de unidade.

A Fraternidade Amigos do Evangelho se propõe a dar este testemunho.

6) Qual o futuro das igrejas inclusivas, em 
especial a FAE?

Não tenho bola de cristal!!! Mas arrisco em dizer que as igrejas inclusivas 
encontrarão o seu lugar no Cristianismo e no mundo.

Principalmente o Ocidente vem rejeitando as diferentes formas de preconceito 
e segregação. As igrejas inclusivas são  um espaço de aceitação.

O futuro da FAE é se expandir pelo Brasil. Temos um modelo eclesial que 
chama a atenção das pessoas. Muitos estão cansados de igrejas opressoras. 
Na FAE as pessoas podem falar e são convidadas a entender quem pensa diferente.

O mundo ocidental busca por liberdades, mas também por equilíbrio. No 
cristianismo proposto pela FAE, as pessoas encontram tudo isso.

Boletim Informativo desse Domingo

BOLETIM INFORMATIVO DA FAE 16 / 06 /2019