Fraternidade Amigos do Evangelho: a Igreja da Diversidade em Manaus
A Fraternidade Amigos do Evangelho (FAE) conta com dois encontros semanais, nas terças-feiras e domingos
Diego Oliveira
jornalismo@portalamazonia.com
Publicado em 13.05.2017 10:27
Atualizado em 11.05.2017 18:34
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Publicado em 13.05.2017 10:27
Atualizado em 11.05.2017 18:34
Um porto seguro para praticar sua fé. É
dessa forma que algumas pessoas enxergam a Fraternidade Amigos do
Evangelho (FAE), uma igreja inclusiva que procura acolher as
pessoas excluídas pelas congregações tradicionais, sejam elas
católicas ou evangélicas. Em 2017, o grupo completou três
anos de fundação em Manaus, e apesar de vários obstáculos
vencidos, a fraternidade ainda não possui uma sede para as
celebrações e reuniões, elas acontecem nas casas dos fiéis
que abraçaram a causa.
Em 2013, o Bispo Renato de Souza, tomou
conhecimento do formato igreja inclusiva. “Sou pesquisador na área
de religião, então no final da faculdade de teologia iniciei uma
busca sobre o assunto. Cerca vez recebi um convite para conhecer uma
igreja inclusiva que tinha em Manaus. Depois de um tempo comecei a
congregar e fui ordenado bispo. Após algumas divergências
teológicas sai e abri a FAE, primeiro com encontros esporádicos na
minha casa, depois realizando reuniões nas casas dos participantes”,
disse.
Segundo
o bispo, os encontros da FAE são chamados de celebrações. Por
causa dos membros, que são de evangélicos e católicos, o bispo
precisou adaptar as reuniões. “Criamos esse meio termo por que
temos um público oriundo tanto das igrejas evangélicas, quanto das
católicas. Faço um culto voltado para as duas denominações, uso
roupas sacerdotais e ouvimos a palavra de Deus. O sermão costuma ser
de uma perícope inteira da bíblia para que nada saia de seu
contexto”, explicou.
Sobre o trabalho
desenvolvido pela igreja inclusiva, o Bispo Renato se diz esperançoso
e espera que as pessoas possam buscar aconselhamento na fraternidade.
“Até pouco tempo nós éramos a única igreja inclusiva do Norte,
agora nós sabemos que existem outras trabalhos recomeçando em
Manaus. Nosso objetivo é alcançar as pessoas que os outros cristãos
não querem, aqueles que foram excomungados ou expulsos de suas
igrejas. Estamos aqui para os excluídos e solitários, ou até
mesmos, os que se sentem ligados a essa proposta”, comentou.
Religião e sexualidade
Um dos grandes pontos polêmicos que acerca as
igrejas inclusivas é a questão da sexualidade versus religião. "O
primeiro argumento que podemos utilizar é que na bíblia você
encontra apenas oito versículos que supostamente condenam as
práticas homoafetivas, mas você se depara com 200 que falam sobre o
amor ao próximo. Então, o que seria mais importante? Depois usamos
um método histórico/crítico que lança mão das ciências modernas
para reinterpretar os textos. Faço muitos aconselhamentos, converso
com as pessoas, procuro sobretudo fazer com que eles se sintam amados
por Deus", revelou.
Para o Bispo, as pessoas não deveriam olhar para
a bíblia como um livro jurídico, mas como uma grande carta de amor
para a humanidade. "O primeiro critério para se interpretar a
bíblia é entender que Deus é amor. Ele jamais condenaria a obra de
suas mãos, o homoafetivo é uma obra das mão Dele, ou seja, Deus
não criaria alguém para ir ao inferno. Nosso objetivo é fazer com
que as pessoas se sintam bem na igreja inclusiva, onde pode ser
aceito como é, com suas virtudes e defeitos, e sobretudo amar um
Deus que não é juiz, mas um pai amoroso", comentou.
Encontro nacional
Em dezembro do ano passado, o Bispo Renato
participou do primeiro Encontro Nacional de Pastores e Líderes de
Igrejas Inclusivas do Brasil. O evento foi sediado pela Igreja
Comunidade Atos, em Brasília. Com o evento, as lideranças decidiram
criar um Conselho Diretivo com um representante de cada região do
país, a participação do Bispo foi quase que automática, uma vez
que ele era o único representante do Norte. No final do encontro, os
diretores escreveram um documento nacional para ser entregue ao
governo.
O texto do documento
aborda a questões como a família tradicional e pedofilia. Na visão
do Bispo, as pessoas precisam conhecer uma causa para que a mesma
seja julgada. “Queremos desmitificar que i cristão inclusivo é
contra a família tradicional, afinal somos filhos de uma família
tradicional, como podemos ser contra isso? E também abordamos a
questão da pedofilia, afinal muitas pessoas acham que todo
homossexual é pedófilo e as coisas não são bem assim. Estamos
programando outro encontro, mas dessa vez em São Paulo”, contou o
Bispo.
Sede
Os fiéis da FAE se reúnem duas vezes na semana,
o primeiro acontece nas terças-feiras, já a celebração é
realizada nos domingos. A fraternidade não possuí uma sede, então
as reuniões são feitas nas casas dos membros. "Estamos
trabalhando desde o início do ano para encontrar uma sede, nesse
meio tempo, a gente realiza os encontros na minha casa ou na dos
participantes. Queremos também adicionais mais um dia de encontro
que é um projeto para a escola bíblica. E estamos estudando a
possibilidade de criar pequenos grupos, uma espécie de célula, para
manter a espiritualidade dos participantes", afirmou.
Para divulgar o trabalho da FAE, a diretoria
pretende fazer um encontro para desenvolver relacionamentos. “É
uma forma de aproximar as pessoas, principalmente daqueles que querem
conhecer o trabalho que desenvolvemos. As pessoas não podem ficar
longe da palavra de Deus, e muitos por medo acabam se afastando, mas
como eu já falei, Deus é amor. Não se prenda a coisas pequenas em
frente ao amor Dele por nós”, aconselhou o Bispo.
Fiéis
O servidor público Rafael Farias acompanha o
trabalho da fraternidade desde de sua fundação. "Aos 19 anos,
entrei em contato com um pastor de São Paulo, ele me remeteu para
outra pessoa, mas o tempo acabou passando, então conheci o Bispo
Renato em outra igreja, depois que a mesma fechou, o Bispo decidiu
iniciar a fraternidade. Ao longo dos anos conseguimos perseverar, não
é fácil, mas mantivemos as reuniões apesar dos obstáculos",
falou.
A fraternidade começou aparecer mais nos últimos
meses, os membros criaram uma página na internet, canal no YouTube e
até mesmo cartões que são distribuídos nas ruas de Manaus. "A
visibilidade é necessária. Todo tipo de discriminação precisa ser
vista para que a sociedade consiga refletir. Antes os nossos
encontros eram limitados, mas agora estamos conseguindo alcançar
mais pessoas", disse o jovem.
O biólogo, Lucas Dias, conheceu a fraternidade
através de alguns amigos e decidiu participar de uma das celebrações
dominicais. Já na primeira reunião ele se sentiu abraçado pelos
fiéis. " Na FAE me senti muito acolhido por todos, diferente de
alguns templos onde me sentia excluso por não acreditar nesse Deus
que castiga por não cumprirmos as regras. Na fraternidade encontrei
o Deus que é amor, que enviou seu filho para remição dos pecados,
que ama todas suas criaturas. Além de mostrar esse Deus Pai, o real
significado do Abba Pai", contou.
A Fraternidade Amigos do Evangelho (FAE) conta com
dois encontros semanais, nas terças-feiras e domingos. Os
interessados podem acessar a fanpage da igreja para saber onde
acontecem os encontros.
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